Por que eu dou minha música de graça?

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Muitas pessoas têm me perguntado quais são as razões para eu dar parte da minha música de graça.

Bem, por que não? Por que tudo tem que ter um custo? Para mim música é som organizado que pode ser usado como símbolos sonoros para comunicar idéias. Já que meu principal objetivo é a comunicação dessas idéias para as pessoas, então porque não dar esta música de graça, e desta forma facilitar a distribuição dessa música para as pessoas? Entretanto, a distribuição desta forma de música não é de grande interesse comercial para as companhias de música (gravadoras, distribuidoras, lojas, etc.).

Minhas razões para dar música de graça vêm da minha crença de que idéias musicais não deveriam ser possuídas por ninguém. Eu acredito que idéias deveriam ser livres para qualquer pessoa usar (mas não necessariamente vender a outros ou fazer outros pagar pelo seu uso). O conceito de uma “área comum”, onde idéias possam ser usadas para o benefício de todos mas não para o lucro de alguém, pode parecer um conceito impensável no mundo de hoje. De modo geral, a ganância move o mundo de hoje e é por causa dela que o conceito de propriedade existe.

Não haveria nenhuma necessidade de ser o dono exclusivo de algo, a menos que o uso disto fosse restrito ao possuidor por razões de conservação, ou a menos que o possuidor deseje que as pessoas paguem taxas para o uso destes itens. O conceito de riqueza também vem da idéia de propriedade e controle de recursos.

Eu acredito que a área das idéias deveria ser uma “área comum” a todas as pessoas. Tem sido provado que o verdadeiro progresso acontece quando idéias são compartilhadas e desenvolvidas coletivamente. A antiga sociedade egípcia é um exemplo disto e o desenvolvimento da internet é um exemplo nos tempos modernos. O crescimento da internet é definitivamente devido ao conceito de open-source software (código aberto), freeware (distribuição livre) e shareware (cópias de avaliação). De modo geral, o desenvolvimento comercial tem inibido o crescimento ao introduzir os conceitos de propriedade, de idéias exclusivas e restritas, e a idéia de se ter que pagar por informações que em muitos casos estão disponíveis de graça em algum lugar.

Embora não seja prática, na sociedade atual, uma situação em que todas as idéias e informações são disponíveis para o uso de todos, deveria haver áreas onde idéias e informações fossem livres para o uso de todos. Isto é verdadeiro especialmente em relação às idéias criativas e pensamentos inspirados.

Mas as pessoas têm me perguntado: “se você vai dar sua música de graça, como você vai sobreviver e se sustentar?” Realmente, gravar custa dinheiro, engenheiros e músicos têm de ser pagos e materiais precisam ser adquiridos. Contudo, não é necessário ter a mentalidade de que nós precisamos ter um lucro sobre tudo o que produzimos. Se uma pessoa tem uma forte convicção e uma razão para o que ela está fazendo, só isto será motivação suficiente para que a ação seja consumada.

Em primeiro lugar dinheiro não é real, é uma espécie de acordo entre as pessoas, apenas mais uma idéia. Esta idéia particular não tem valor algum, a menos que todos concordem com o seu valor. E, de modo geral, o desejo e a luta pela aquisição de dinheiro quase sempre tem um efeito negativo na mente. A busca por dinheiro e aquisições materias em geral é uma barreira para o desenvolvimento espiritual.

Disponibilizar algumas idéias e música de graça não significa que todas precisem ser dadas de graça. Mas há algumas pessoas que ou não podem pagar pela música ou nunca a escutariam se tivessem de pagar por isso. Para este grupo de pessoas, e para todos os outros que compraram e sustentaram a música no passado, deveria haver uma área onde eles pudessem ir para ouvir a música sem nenhuma custo. Eu visualizo uma situação onde talvez um terço ou metade da música que eu crio e disponibilizo será livre de custos para o público. O mesmo se aplicaria a outras idéias sobre música, informação geral, teoria musical, filosofia, etc..

Há ainda performances ao vivo para as quais as pessoas vêm, e estas não podem ser de graça já que preciso, no mínimo, pagar os membros da banda e meus produtores. Às vezes eu pessoalmente tenho um lucro sobre as performances que meu grupo faz, às vezes eu até tenho um certo prejuízo, outras vezes eu na verdade perco muito dinheiro. De modo geral, eu consigo me manter. Não é uma grande operação e ninguém está ficando rico. Qualquer dinheiro extra que eu ganhe volta para pesquisas, desenvolvimento de idéias e viagens a lugares que têm infra-estruturas que tornam quase impossível fazer dinheiro. Enquanto grupo, nós temos feito várias viagens para lugares como Cuba, Senegal, Índia, etc., e em quase todos os casos as despesas têm sido pagas por mim mesmo.

Deveriam haver algumas idéias e conceitos que estivessem disponíveis para o uso de todos, para contribuir para o progresso de todos.

Paz,

Steve Coleman
Traduzido por Patrícia Magalhães


 
Links:

Steve Coleman's performance schedule
Steve Coleman's research
Steve Coleman resume
Descriptions of Steve Coleman recordings
Interviews with Steve Coleman
Steve Coleman's music
Steve Coleman Music Scores
M-Base explanation
M-Base and Music Collectives (by Vijay Iyer)
The M-Base Collective (participants)
Steve Coleman California Bay Area Community Residency (from 1996)
Educational Activities at the University of California at Berkeley

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Última modificação em 4 de outubro de 2004